O QUE NINGUÉM TE CONTA SOBRE O TURISMO SOBRE RODAS
- Cristiano L Cazarotto

- 7 de ago.
- 4 min de leitura
Cidades onde é proibido motorhomes: Solução ou Retrocesso? Oque você pensa realmente sobre o tema.

Em 2018, junto com minha esposa, Sandra Doyama, fizemos uma escolha que mudou tudo: deixamos a rotina estável da arquitetura e engenharia em São Paulo, transformamos uma Kombi 2009 — a qual fora batizada de Beatriz — no nosso lar e escritório, e caímos na estrada.
Por que fizemos isso? Qual o nosso propósito? Viver o Brasil na pele, aprender sobre nossas culturas, entender as comunidades visitadas e encontrar formas de ajudar comunidades a enxergar oportunidades de desenvolvimento social e econômico, através do turismo, principalmente de base comunitaria, nos pequenos municipios e comunidades que iríamos visitar.
Ao longo de nossa experiencia na estrada, o Viagem Kombinada deixou de ser apenas um projeto: tornou-se nosso modelo de vida.
Vivemos de forma nômade, trabalhando na estrada, levando na bagagem conhecimento em gestão de turismo, mas também a paixão por impulsionar o desenvolvimento das comunidades por meio do Turismo de Base Comunitária.
Tudo o que ensinamos, sugerimos ou debatemos, foi antes experimentado na prática, convivendo, sentindo e transformando junto com quem faz o turismo acontecer no dia a dia das cidades. Desde então, rodamos milhares de quilômetros, ouvindo histórias, aprendendo tradições e contribuindo para o fortalecimento de cidades e vilarejos. Por onde passamos, sempre defendemos um turismo mais humano, responsável, conectado ao território e às pessoas. Foi essa vivência, e o tempo de estrada no projeto de vida Viagem Kombinada, que moldou a nossa visão sobre os desafios — e as oportunidades — do turismo no Brasil, e aproveitamos agora para falar de uma destas oportunidade, mas que também é um desafio para muitas cidades de nosso gigante Brasil:
Motorhomes: Mais que uma tendência, uma nova cultura de viajar
Viajar de motorhome não é apenas sobre liberdade de ir e vir. É sobre a possibilidade de experimentar lugares de forma autêntica, valorizar o pequeno comércio local, escolher o restaurante familiar, comprar direto do produtor e criar laços com familiar, imergir na rotida da comunidade. É sobre desacelerar, respeitar o ritmo de cada destino e, principalmente, deixar uma marca positiva por onde se passa.
Nós, assim como milhares de viajantes que cruzam o Brasil a bordo de suas casas sobre rodas, temos um código de conduta simple e muito claro:
Respeitar o espaço do outro
Cuidar do meio ambiente
Conviver de maneira harmoniosa com moradores e visitantes
A maioria dos motorhomers já entendeu que ser bem-vindo depende de nossa postura e responsabilidade.
A solução fácil que custa caro - PROIBIR MOTOR HOMES
Ainda assim, vejo com tristeza que muitos municípios, que seja por medo, quer seja por desinformação ou pressão de grupos econômicos, estão escolhendo o caminho de proibir motor homes. Mas ai te perguntamos?: o que se ganha fechando as portas para um público tão engajado e que só deseja pertencer, consumir e valorizar o destino?
O que falta, na maioria das vezes, não é ordem, mas estrutura, diálogo e visão. Proibir pode parecer uma resposta rápida, mas é, na verdade, uma barreira ao desenvolvimento, à circulação de renda e à imagem inovadora da cidade.
Onde ousaram incluir, todos ganharam
Em algumas cidades brasileiras, na região Sul do Brasil, por exemplo, bastou a criação de pontos de apoio, áreas para descarte responsável, acesso à água e energia, para que os municípios experimentassem o aumento do fluxo de turistas — inclusive fora da alta temporada — com um fortalecimento concreto do comércio local.
Cidades que acolhem motorhomes colhem frutos:
Mais movimento na baixa estação
Mais gente conhecendo e divulgando o destino
Mais dinheiro circulando em mercados, padarias, feiras e restaurantes
Uma imagem muito mais positiva, moderna e acolhedora.
Caminhos para cidades que querem crescer
Se queremos cidades vivas, inovadoras e protagonistas do turismo no século XXI, precisamos avançar. Acreditamos que o futuro não é feito de proibições, mas de soluções compartilhadas e de acolhimento inteligente.
O que pode ser feito, na prática:
Se você é prefeito, secretário de turismo, vereador, empresário local ou atua com gestor de destinos turísticos, pense estrategicamente:
Invista em infraestrutura e pontos de apoio para motorhomes: não é só acolhimento físico, mas também sinal digital de inovação.
Promova educação e diálogo: turistas e moradores bem informados geram menos conflitos e mais avaliações positivas.
Integre o turismo de base comunitária ao digital: incentive roteiros autênticos, conectando experiências offline à presença online.
Monitore sua reputação digital: acompanhe avaliações, menções e conteúdos sobre seu destino em plataformas, redes sociais e Google.
Legisle de forma inteligente: normas que acolhem fortalecem o branding territorial e aumentam o alcance orgânico do município, crie regras, locais, construa infraestrutura.
Medo ou Ousadia?
Como agente transformador de comunidades,estudioso das culturas e modos de fazer, como alguém que acredita na indústria do turismo como ferramenta de desenvolvimento, afirmo: proibir a entrada de motorhomes é desperdiçar oportunidades.
É hora de trocar o medo pela ousadia, a resistência pelo diálogo, e a exclusão pela visão de futuro.
Convido gestores, empresários e moradores a refletirem: Que cidade você quer construir? Aquela cidade que acolhe, aprende, cresce e se reinventa — ou aquela que fecha as portas para quem mais pode somar?
Enquanto você pensa sobre seu possicionamento, nós seguimos na estrada, construindo pontes, levando nossa Kombi Beatriz, nossa história e nossa experiência para inspirar outras pessoas, outras comunidade e outras cidades a enxergar o turismo sempre como um motor de transformação social e econômico local — nunca como um problema a ser evitado.







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